1º Simpósio Ação Pública e Inovações Sociais de Petrópolis – I SiAPIS debate desafios e perspectivas da participação social

Boletim nº 83,  08 de novembro de 2024

Gustavo Costa – Professor do IPPUR/UFRJ

Carla Magno – Pesquisadora bolsista do projeto

 

Em 11 de outubro foi realizado o 1º Simpósio Ação Pública e Inovações Sociais de Petrópolis na UNIFASE, sob coordenação do Prof. Gustavo Costa do IPPUR, financiado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). O evento marcou o encerramento da primeira etapa do projeto de pesquisa “Cartografia do Ecossistema de Inovações Sociais de Petrópolis” e o lançamento da plataforma do Observatório de Inovação Social de Petrópolis (OBISP). O OBISP surge a partir da parceria e do intercâmbio com o Observatório de Inovação Social de Florianópolis e integra o projeto “Rede colaborativa para favorecer a inovação social na ciência e nas políticas públicas: articulando pesquisa, ensino e extensão” que teve início este ano, financiado pela CAPES PROEXT e reúne uma rede internacional de pesquisadores sobre o tema.

O objetivo principal do Simpósio foi estabelecer diálogos com os conhecimentos e experiências de quem está na lida com os problemas públicos no cotidiano, isto é, organizando-se coletivamente para enfrentar  desafios comuns de quem vive na cidade de Petrópolis. Neste sentido, o simpósio se propôs a colocar os conhecimentos científicos e não científicos em pé de igualdade epistêmica, rejeitando as hierarquias entre os diferentes tipos de saberes e reconhecendo o valor das práticas e das compreensões situadas em diferentes contextos, dos acontecimentos. O formato do evento foi pensado para promover conexões entre pessoas que fazem parte de coletivos e organizações da sociedade civil,  estudiosos e investigadores do tema e  organizações que possam apoiar estas iniciativas. 

Na perspectiva pragmatista, ao invés de se partir das soluções que já vêm prontas, são os problemas em contexto que orientam a ação pública. Sob influência do conceito de público presente nos escritos de John Dewey, Robert Park e George Mead, os estudos sobre a democracia passam a se interessar por compreender a ecologia das experiências de participação e da ação pública. Neste enfoque, a democracia é compreendida a partir das experiências dos atores envolvidos na definição e na resolução dos problemas públicos (ANSELL, 2011). Esta foi, portanto, a inspiração que orientou a realização do simpósio.

A professora e pesquisadora da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Maria Carolina Martinez Andion, coordenadora do Observatório de Inovação Social de Florianópolis (OBISF) e pioneira nos estudos sobre inovações sociais no país, foi um dos destaques da programação. O Simpósio promoveu, ainda, mesas de debates com atores que incentivam e apoiam inovações sociais na cidade, intervenções artísticas com grupos culturais e dois painéis expositivos de iniciativas de inovação social que estão entre as mais de 60 já mapeadas e entrevistadas pela equipe do projeto de pesquisa e que seguirão acompanhadas pelo OBISP. A apresentação dos resultados da pesquisa no I SiAPIS foi importante para engajar mais iniciativas e organizações da sociedade civil a participarem do projeto, partindo de uma premissa de investigação colaborativa e co-construção de saberes e práticas para enfrentamento aos problemas públicos da cidade.

Na conferência inaugural, Carolina Andion compartilhou sua experiência de 7 anos à frente do OBISF, ressaltando a contribuição dos observatórios de inovação social para o desenvolvimento local. A professora tratou das enchentes vividas em Petrópolis e, mais recentemente, no Rio Grande do Sul, para falar sobre o cenário de sobreposição de múltiplas crises e propor uma reflexão sobre futuros possíveis. “Robert Park, que trabalha com a questão das ecologias humana e urbana, vai dizer justamente isso: se nós não conseguirmos reinventar a cidade, porque ali é o espaço para reinventarmos o nosso lugar, mas também para nos reinventarmos, onde é que vamos reinventar ? A cidade já é esse laboratório. Porém, o que estamos assistindo hoje é uma sobreposição de múltiplas crises, ambiental, crise de democracia, a questão das instituições e, no caso do Brasil, uma ampliação gigantesca das desigualdades, a partir da pandemia”. Na conferência de abertura, Carolina destacou o papel dos Observatórios de Inovações Sociais como um instrumento para auxiliar na articulação da sociedade civil no sentido de promover maior incidência sobre os problemas públicos da cidade e disputar a co-construção de soluções para estes problemas em diferentes arenas.

O Simpósio cumpriu também com o objetivo de praticar a extensão universitária de uma maneira crítica e inovadora, envolvendo discentes do GPDES e do IFCS e promovendo trocas de experiências em mão dupla, da sociedade para a universidade e vice-versa, reunindo atores e organizações de diferentes segmentos da sociedade: universidades públicas (CEFET, UFRJ, UERJ), universidades particulares (UCP, UNIFASE, UNESA), empresariado (CDL, SERRATEC), organizações e projetos oriundos da Sociedade Civil (IPG, Projeto Elas na Serra, Instituto Ampla Visão, Instituto Todos Juntos Ninguém Sozinho, Centro Educacional Terra Santa, Oficina Figurino Carioca, Vale das Videiras em Transição e Viveiro Muda Tudo, Associação Amigos da Mata, Grupo de Teatro Povo do Cafundó, Renovar dentre outras) discutindo problemas públicos diversos da cidade de Petrópolis, como aqueles relacionados às chuvas e deslizamentos, meio ambiente, direitos das mulheres, violência doméstica, economia solidária, mercado de trabalho, educação, cultura e lazer.

Imagem: Gustavo Costa

Na parte da manhã, a programação contemplou também a apresentação da Camerata da Escola Padre Quinha, do Vale do Cuiabá, formada por professores e ex-discentes que participam do projeto de contraturno; e um painel expositivo com iniciativas da sociedade civil da cidade, que puderam se apresentar e discutir os problemas públicos e os desafios para enfrentá-los a partir de suas próprias perspectivas. Participaram deste painel Pamela Mércia, do Instituto Todos Juntos Ninguém Sozinho (TJNS), relatando suas atividades de combate ao racismo ambiental; a professora Vanessa Marquesim, da Associação Amigos da Mata, relatando suas experiências de educação ambiental em Secretário; a atriz, professora e produtora Simone Gonçalves, do Grupo Teatral Povo do Cafundó, abordando projetos culturais e de memória social de negros e negras; e Bárbara Pellegrini, do movimento Vale das Videiras em Transição, tratando da mobilização comunitária e preservação do meio ambiente. “Agradeço a oportunidade que propiciou o Simpósio. É alvissareiro saber de tanta gente bacana e dedicada trabalhando no mesmo território em que vivemos ! Mais ainda, é promissora a possibilidade de que essas iniciativas mapeadas pelo OBISP sejam apoiadas e possam multiplicar os efeitos de sua dedicação”, comentou Bárbara.

Na parte da tarde, uma mesa de debates reuniu pesquisadores para discutir a relação entre os observatórios de inovação social e o desenvolvimento democrático. Nela estiveram presentes, além de Carolina Andion, representando o OBISF, o coordenador do Laboratório de Inovação e Sustentabilidade da UDESC (Liss-UDESC), professor Danilo Melo, relatando a experiência de Santa Catarina; a diretora do Observatório dos Negócios de Impacto Social e Ambiental do Rio de Janeiro (Rio de Impacto) e professora do CEFET-RJ, Inessa Salomão; o coordenador do Observatório de Inovação Social da Fronteira (Obisfron/UFMS) e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Anderson Espírito Santo; (Obisp); e o professor Gustavo Costa (OBISP/IPPUR/UFRJ), que mediou a troca. 

Em outra mesa, representantes de instituições da cidade parceiras do projeto debateram  a importância de apoiar iniciativas de inovação social. Mediada pela coordenadora do Centro Educacional Terra Santa, Andrea Fecher, a conversa envolveu a gerente executiva do Serratec – Parque Tecnológico da Região Serrana, Thaís Ferreira; Cleveland Jones, presidente do Instituto Philippe Guédon (IPG) de Gestão Participativa; o coordenador de projetos e extensão da UNIFASE, Ricardo Tammela; e o professor do Cefet-RJ Petrópolis, coordenador do projeto Expedições Cefet/RJ, Fernando Pessoa. “O simpósio teve papel fundamental em proporcionar uma articulação entre diferentes instituições, projetos e, principalmente, pessoas! Fundamental pensarmos em como o Cefet/RJ pode apoiar e contribuir de maneira adequada com tais iniciativas, com base na presença e estabelecimento de diálogos, ponto forte do evento”, relatou Fernando. 

A programação da tarde incluiu uma intervenção artística da atriz Simone Gonçalves, do Grupo Teatral Povo do Cafundó, que participou do painel expositivo pela manhã. Simone apresentou um recorte de um dos seus espetáculos de trabalho inspirado em Stella do Patrocínio, mulher negra interceptada pela polícia nas ruas do Rio de Janeiro na década de 1940 e internada compulsoriamente em um centro psiquiátrico aos 21 anos. Simone abriu o painel expositivo da tarde, do qual participaram Viviane Marques, idealizadora do projeto Elas na Serra, abordando o enfrentamento da violência doméstica e direitos das mulheres; Maria Claudia Moura, da Oficina Figurino Carioca, tratando da questão de geração de emprego e renda para mulheres; Solimar Fidelis, presidente do Instituto Beneficente Ampla Visão, que realiza diversas atividades junto a crianças e adolescentes do bairro Duarte da Silveira; e a coordenadora do Centro Educacional Terra Santa, Andrea Fecher, relatando a articulação de iniciativas que tratam de assistência social e direitos das crianças e adolescentes. As oito exposições de iniciativas nos painéis deram uma pequena mostra da riqueza das experiências observadas e entrevistadas entre as mais de 60 que participaram do primeiro ciclo do projeto de pesquisa “Cartografia do Ecossistema de Inovações Sociais de Petrópolis”. 

Imagem: Gustavo Costa

No encerramento do Simpósio, o Prof. Gustavo Costa e a pesquisadora Carla Magno apresentaram a primeira versão da plataforma do Observatório de Inovação Social de Petrópolis, https://observapetropolis.com.br/, ainda em fase de testes e ajustes, mas já ativa e recebendo cadastro das iniciativas da cidade. Participaram da comissão organizadora os discentes e extensionistas do GPDES Jonathan Pinheiro e Eduardo Maia e as bolsistas de iniciação científica Bianca Montalvão (GPDES-UFRJ) e Ana Cecília Caire (IFCS-UFRJ). 

O recém lançado  Observatório de Inovação Social de Petrópolis seguirá com suas atividades  voltadas ao reconhecimento da rede de iniciativas de inovação social da cidade e outros atores de suporte. Por meio de visitas de campo, oficinas e novos encontros, pretende oferecer espaços de interação com e entre as iniciativas, igualmente impulsionados por meio da plataforma que serve como  ferramenta pública para facilitar a mobilização, a articulação e a expansão dessa rede.