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25 anos do Centro de Estudios de la Mujer en la Historia de America Latina

Publicado em 09/09/2025

CATEGORIAS: Boletim IPPUR

Boletim nº 89, 10 de setembro de 2025

Fabia Eduarda de Oliveira Franco

Graduanda do GPDES/IPPUR e bolsista PROFAEX da extensão ‘Encontros Internacionais: o brasileiro entre outros hispanos’

No dia 9 de junho de 2025, a ação de extensão Encontros internacionais: os brasileiros entre outros hispanos promoveu uma live em comemoração aos 25 anos do Centro de Estudios de la Mujer en la Historia de América Latina (CEMHAL), fundado em Lima, no Peru, pela escritora Sara Beatriz Guardia. O encontro foi transmitido ao vivo e contou com a participação da própria diretora do CEMHAL, além de algumas das autoras do livro: Cláudia Luna (Faculdade de Letras, UFRJ), Berta Wexler (Universidad Nacional de Rosario, Argentina) e Renata Bastos (IPPUR/UFRJ). O apoio técnico foi realizado por Jefferson Santi da PR5 e Fábia Franco, bolsista PROFAEX da ação de extensão citada.

O evento teve como objetivo, além de apresentar o livro comemorativo dos 25 anos da instituição, celebrar uma trajetória marcada pela resistência, pela memória e pelo compromisso com o registro das histórias das mulheres latino-americanas. A publicação reúne textos de 37 pesquisadoras e pesquisadores de países como Brasil, México, Estados Unidos, Áustria, Peru e Argentina, retratando um esforço coletivo de analisar e refletir sobre as mulheres na história a partir de uma perspectiva interdisciplinar, crítica e comprometida com a política democrática.

A live teve início com a fala de Sara Beatriz Guardia, que compartilhou um relato emocionante sobre sua trajetória acadêmica e pessoal. Ela destacou que sua inquietação nasceu da constatação da ausência das mulheres nos livros, o que a motivou a iniciar uma investigação que resultou no livro “Mujeres Peruanas: el otro lado de la historia”, publicado em 1985. A obra explora um campo até então ignorado no Peru, revelando o protagonismo feminino desde as sociedades pré-hispânicas até os conflitos políticos e sociais do século XX.

Segundo Sara Beatriz, reescrever a história não é apenas uma necessidade científica, mas um gesto político. A fundação do CEMHAL, em 1998, surgiu da ausência de centros acadêmicos dedicados à história das mulheres e do reconhecimento de que a luta feminista na América Latina exigia espaços institucionais próprios. Apesar da falta de financiamento e do ceticismo de muitas organizações, Sara Beatriz decidiu criar o centro com base no trabalho voluntário e a partir de uma intensa rede de trocas acadêmicas pela internet. Ao longo desses 25 anos, o CEMHAL promoveu oito simpósios internacionais, um congresso internacional, diversos grupos de pesquisa, a publicação de sete livros e 233 edições da revista Historia de las Mujeres, todas disponíveis online, através do site https://cemhal.org/

Seguindo, a professora Cláudia Luna (Faculdade de Letras/UFRJ) ressaltou o papel fundamental da participação brasileira na trajetória do CEMHAL. Em sua fala, abordou o impacto dos intercâmbios acadêmicos promovidos pelo centro na produção de conhecimento no Brasil. Para ela, a colaboração com o CEMHAL exige dos pesquisadores brasileiros uma perspectiva comparativa e um sentimento de pertencimento latino-americano, o que fortalece a internacionalização do pensamento feminista produzido nas universidades públicas do país.

Cláudia Luna enfatizou que todos os livros publicados pelo centro contam com participação de autoras brasileiras e reforçou o papel das universidades federais, estaduais e municipais do Brasil na difusão do pensamento decolonial. A relação entre países reforça a proposta de uma história escrita a partir das margens, considerando raça, classe, gênero e território como indissociáveis.

Representando a Universidad Nacional de Rosario, na Argentina, a professora Berta Wexler sublinhou a relevância política e intelectual do CEMHAL na constituição de uma rede transnacional de pesquisadoras feministas. A partir de sua experiência no Centro de Estudios Interdisciplinarios sobre las Mujeres (CEIM) ela lembrou que o projeto de Sara Beatriz Guardia sempre contou com o esforço pessoal da autora, mesmo diante da ausência de apoio institucional de entidades públicas ou privadas.

Berta Wexler rememorou que a obra “Mujeres Peruanas” foi premiada internacionalmente e que a trajetória de Sara Beatriz recebeu reconhecimento de instituições como a Unesco e universidades de todo o mundo. Segundo a professora argentina, a história das mulheres é um direito conquistado e a produção reunida pelo CEMHAL nos últimos 25 anos constitui um patrimônio coletivo da América Latina.

Encerrando a comemoração, a professora e coordenadora da ação de extensão “Encontros Internacionais: o brasileiro entre outros hispanos”, Renata Bastos (IPPUR/UFRJ) reforçou a importância do evento como marco simbólico e afetivo. Enfatizou que a pesquisa promovida pelo centro foi decisiva para que outras vozes fossem incorporadas aos debates sobre soberania, memória e democracia. Por outro lado, salientou que Sara Beatriz liderou a reflexão sobre, a partir do CEMHAL, o bicentenário da independência dos respectivos países da América Latina. A professora também apresentou um breve resumo do artigo que escreveu para o livro comemorativo, centrado no papel das mulheres na vida pública, especialmente na economia, com destaque para figuras como Maria da Conceição Tavares, Monica de Bolle, Laura Carvalho e Esther Dweck. Renata Bastos também aproveitou para relembrar as contribuições de Nélida Piñon e sua obra “As vozes do deserto” (2004) — que, como Sherazade de “As mil e uma Noites”, resistem à morte narrando histórias. Por fim, Renata Bastos afirma que o CEMHAL é esse lugar de escuta, onde as vozes se tornam coletivas e universais.

A celebração dos 25 anos do CEMHAL é a afirmação da política democrática e a revelação das contribuições das mulheres na construção das sociedades latino-americanas. Podem ver a apresentação através do link: https://www.youtube.com/live/QtEGfWwjtLs?si=jg3IHMkv734kydwL

 O livro reúne vozes de mulheres e homens que, juntos, mesmo de diferentes países,  reafirmam o compromisso com uma história que inclua as mulheres como sujeitos históricos, políticos e epistêmicos. Em um contexto difícil para a democracia, o CEMHAL resiste em afirmar os ideais republicanos e democratas; assim como se compromete e ressalta os direitos e deveres que todos os seres humanos devem ter para a preservação e construção da Casa Comum que é nosso planeta.

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