XXIX Semana IPPUR: Desafios ao planejamento urbano e regional e à gestão pública em tempos de capitalismo de desastres

Boletim nº 81,  04 de setembro de 2024

Comissão Organizadora da XXIX Semana IPPUR

Neste ano de 2024, a Semana IPPUR completará 29 anos de realização anual, sem qualquer lapso de continuidade! Ao longo desse tempo, o evento distinguiu-se por sua importante contribuição acadêmica, na formação de estudantes e pesquisadores no pensamento crítico sobre a dimensão socioespacial da sociedade em que vivemos, bem como sobre a gestão pública pensada em bases radicalmente democráticas e voltada ao atendimento das legítimas demandas da sociedade brasileira. Além de seus aspectos acadêmicos relevantes, o evento também tem um significado afetivo para toda a comunidade ippuriana, permitindo o encontro das múltiplas diversidades que nos marcam, nos enriquecem e nos unem.

Ao mesmo tempo em que celebramos os 29 anos deste encontro, cabe-nos realizá-lo em tempos de rápidas transformações e muitas incertezas, cujas crises têm ameaçado fortemente as expectativas da vida (humana e não-humana) em nosso planeta. No capitaloceno, crimes e desastres ambientais têm sido cada vez mais recorrentes, sendo produzidos por um modelo de desenvolvimento econômico financeirizado, extrativista e predatório. Propagandeados como soluções, os avanços tecnológicos vêm se aperfeiçoando na extração de rendas, trituração de montanhas e no seu envio para diferentes partes do mundo, tal como nas palavras de Ailton Krenak.

Além de problemas estruturais tais como desemprego, ausência de saneamento básico e de acesso à moradia, violência, múltiplas e sobrepostas desigualdades, fragilização de direitos coletivos, dentre outros fenômenos profundamente preocupantes, os eventos climáticos extremos e suas catástrofes somam-se aos desafios à vida nas cidades e regiões brasileiras, bem como à sua gestão. Dentre os mais recentes casos, recordamos os de Mariana e Brumadinho, Região Serrana e Baixada Fluminense no Rio de Janeiro, e aquele que mais recentemente atingiu expressiva porção do Estado do Rio Grande do Sul.

Assim, o tema central deste ano propõe uma reflexão sobre os desafios ao planejamento urbano e regional e à gestão pública em um contexto que enfocamos como marcado por um capitalismo de desastres1. Nesta conjuntura, se manifesta toda sorte de privatizações e de implementação de ideias neoliberalizantes, no âmbito da reconstrução e na gestão das crises nas cidades e regiões atingidas pelas tragédias climáticas. Ilustram este cenário as notícias da contratação de consultorias privadas na elaboração de estratégias e planos para a reconstrução do Rio Grande do Sul. Dentre elas, Alvarez & Marsal, consultoria estadunidense que atuou na gestão da crise pós-furacão Katrina, em Nova Orleans (Louisiana, EUA), cujo grande feito foi a privatização de quase todas as escolas públicas naquela cidade.

Inspirada por esses desafios, a Semana IPPUR 2024 convida a todos os grupos de pesquisa, docentes, discentes, alunos egressos, pesquisadores e técnico-administrativos à elaboração de contribuições, individuais ou coletivas, em torno dos seguintes eixos temáticos: 

1. O modelo de desenvolvimento capitalista e atividades econômicas “produtoras” dos desastres.
2. O papel do Estado, das empresas e da auto-organização popular na reconstrução e gestão das catástrofes nas cidades e regiões atingidas pelos crimes e desastres ambientais.
3. As concepções em debate no país e no mundo a respeito da gestão fiscal e suas repercussões sobre as condições de enfrentamento das tragédias climáticas e fenômenos a elas associados por parte do Estado.
4. Os múltiplos papéis que o sistema jurídico tem desempenhado diante do cenário aumento de frequência e intensidade das tragédias climáticas, desde um dos possíveis determinantes ou agravantes de sua ocorrência, até a função de fonte de potenciais respostas no campo institucional do planejamento e da gestão pública.
5. As interfaces entre o planejamento urbano e regional e as tarefas de prevenção, enfrentamento e superação das consequências dos eventos climáticos extremos.
6. O papel da universidade, e de suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, diante do cenário socioespacial decorrente desses eventos.
7. Legislações facilitadoras da mercantilização das cidades e das regiões e suas consequências ambientais.
8. As lições da pandemia sobre os verdadeiros limites para os gastos de um governo monetariamente soberano e as possibilidades para a prevenção de desastres e reconstrução de comunidades e regiões afetadas pela crise climática.  
9. Processos de financeirização do mercado imobiliário pós desastres naturais. 
10. As políticas de cultura e sua cooptação pelo discurso hegemônico do Capitalismo de desastre, considerando como pano de fundo os desastres ambientais e seu impacto na cultura local. 
11. O uso das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) em tempos de capitalismo de desastre.

A XXIX Semana IPPUR ocorrerá de 07 a 11 de outubro de 2024, na cidade do Rio de Janeiro, na Cidade Universitária da UFRJ, nas dependências do Edifício Jorge Machado Moreira. Ao longo dessa semana, o evento contará com várias atividades, dentre elas: Conferências e Mesas Redondas; Sessões temáticas de apresentações orais dos trabalhos autorais de docentes, discentes e técnicos-administrativos; Sessões livres para a realização de atividades diversas, tais como rodas de conversa, debates de vídeos e fotografias, trocas de experiências e performances artísticas; Concurso de Pôsteres; Exposição de Fotografias e Vídeos; e Lançamento de Livros.

As inscrições estão abertas e maiores informações sobre o evento podem ser conferidas neste link. 

As principais datas são as seguintes:

¹ Termo cunhado pela autora canadense Naomi Klein em seu livro A doutrina do choque, no qual reflete sobre como eventos climáticos de proporções catastróficas são momentos cruciais para pôr em prática ideias neoliberais radicais

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/176-noticias-2007/562784-a-doutrina-do-choque-o-tema-do-novo-livro-da-ativista-naomi-klein