Atividade de extensão na Escola Municipal Capistrano de Abreu promove debate sobre o livro “Mario y el agujero en el cielo”
Boletim nº 84, 10 de dezembro de 2024
Bianca Bueno, Isadora Mansur e Ruan Brommonschenkel
Graduandos em Relações Internacionais – UFRJ
Uma das atividades de 2024 do projeto de pesquisa e extensão “Vida Pública – os temas republicanos nos espaços escolares e de ensino”, foi a organização de uma série de atividades com o objetivo de promover discussões e reflexões sobre temas como: cidadania, ambiente sustentável e a democratização das ciências. Esse projeto é um esforço conjunto entre a comunidade escolar da educação básica e nosso grupo da UFRJ para, em parceria, conversar de modo descontraído com os estudantes de escolas públicas, com o objetivo de democratizar o conhecimento, em especial por temas que impactam a vida de todos na nossa república democrática. O projeto de pesquisa e extensão é coordenado pela professora Renata Bastos da Silva, da UFRJ, com a participação dos discentes dos cursos de Relações Internacionais e de Gestão Pública da UFRJ.
Após reuniões, realizadas ao longo do ano de 2024, com a equipe pedagógica na escola, estivemos no dia 25 de setembro, na Escola Municipal Capistrano de Abreu, localizada no bairro do Jardim Botânico, na cidade do Rio de Janeiro, para visitar a Feira de Ciências, na qual os estudantes da educação básica apresentaram seus trabalhos sob orientação dos professores. Essa primeira visita teve como objetivo observar e interagir com os estudantes e professores, conhecendo o espaço e o ambiente escolar, e identificando maneiras de apresentar temas complexos de forma acessível e inspiradora para alunos do ensino fundamental. A acolhida foi feita pela coordenadora pedagógica e pela professora da Sala de Leitura, possibilitando um diálogo sobre os temas abordados na feira, que incluíam ciência, meio ambiente e cidadania, alinhados com os propósitos das nossas atividades de pesquisa e extensão.
Dando continuidade à nossa proposta, voltamos à escola no dia 27 de outubro para realizar uma apresentação especialmente planejada para as turmas do 4º e 5º ano, com respectivamente 36 e 32 alunos. A atividade foi centrada na leitura e explanação sobre o livro Mario y el agujero en el cielo*, de Elizabeth Rush, com ilustrações de Teresa Martínez. O livro conta a história de Mario Molina, um químico mexicano-americano que se destacou por suas pesquisas sobre a destruição da camada de ozônio causada pelos clorofluorcarbonetos (CFCs), substâncias comuns em aerossóis e refrigeradores nas décadas de 1970 e 1980. O livro, ainda sem tradução para o português, tem uma narrativa universal e de grande relevância para todos, e não foi um óbice à leitura dos estudantes que, segundo a equipe pedagógica da escola, estão familiarizados com outros idiomas.
O cientista Mario Molina nasceu na Cidade do México, em 19 de março de 1943, e desde criança manifestava uma curiosidade impressionante sobre os “mundos ocultos” da ciência. Já na infância, passava horas explorando a natureza através do microscópio, o que alimentou sua paixão pelas ciências naturais. Essa paixão o conduziu a importantes descobertas no campo da química ambiental, especialmente na compreensão dos impactos nocivos das atividades humanas sobre o meio ambiente. Em sua juventude, após mudar-se para a Califórnia, Mario descobriu que os CFCs estavam causando a destruição da camada de ozônio, essencial para proteger o planeta dos raios ultravioleta. Com a urgência de seus estudos, ele decidiu alertar o mundo sobre esse problema ambiental, o que contribuiu para a implementação de políticas públicas para a proteção da camada de ozônio.
Em reconhecimento às suas contribuições pioneiras, Mario Molina recebeu, em 1995, o Prêmio Nobel de Química ao lado dos cientistas Paul Crutzen e Frank Sherwood Rowland, pelo trabalho na química atmosférica e pela pesquisa sobre a formação e decomposição do ozônio. Anos mais tarde, em 2013, ele foi agraciado com a Medalha Presidencial da Liberdade, entregue pelo presidente Barack Obama, por seu impacto na preservação ambiental global. Sua trajetória serve como uma fonte de inspiração para crianças, jovens e adultos, provando que a ciência pode transformar o mundo.
Nossa conversa com as crianças buscou destacar a mensagem central do livro, utilizando suas ilustrações para conduzir os alunos a uma viagem pelo fascinante mundo da ciência e da descoberta. Explicamos de maneira acessível como as pequenas observações do cotidiano, tal como as que Mario fazia desde criança, podem despertar uma curiosidade que leva a grandes descobertas. Através da leitura e da reflexão sobre a história de Mario Molina, incentivamos as crianças a perceberem que, independentemente de sua idade ou circunstância, elas também podem contribuir para a melhoria do mundo.
O livro conta com dedicatórias significativas: Elizabeth Rush dedica a obra “a todos aqueles que optam pela ciência frente ao silêncio”, enquanto Teresa Martínez, a ilustradora, dedica “a todos os futuros cientistas”. Essa dupla homenagem reforça a ideia de que a ciência é um caminho de resistência e descoberta, que requer coragem e perseverança. Ao mesmo tempo, é um convite para que cada criança que teve contato com essa história se sinta motivada a seguir sua curiosidade e buscar respostas para as perguntas que encontra no seu dia a dia.
A experiência de levar o livro Mario y el agujero en el cielo para as salas de aula foi enriquecedora, tanto para os alunos quanto para nós, do projeto “Vida Pública”. A reação dos estudantes da Escola Municipal Capistrano de Abreu ao conhecerem a história de um químico como Mario Molina nos mostrou a importância de compartilhar narrativas inspiradoras que ampliem a visão de mundo das crianças e jovens. Ao término da apresentação, também promovemos uma roda de conversa onde os alunos puderam expressar suas percepções e curiosidades sobre o tema. Alguns perguntaram sobre a camada de ozônio, outros sobre a carreira de um cientista, e muitos demonstraram interesse em aprender mais sobre como proteger o meio ambiente.
Nosso propósito foi, além de educar, plantar uma semente de conscientização ambiental e de amor pela ciência nos corações dessas crianças. Acreditamos que é no despertar da curiosidade e do senso de responsabilidade que se formam os futuros cidadãos comprometidos com o bem-estar de nossa casa comum, ou seja, do nosso planeta. A história de Mario Molina ilustra que, a partir de nossas pequenas observações e descobertas, podemos contribuir significativamente para o conhecimento e para a proteção da Terra.
Esse encontro e o envolvimento das turmas reforçam a importância de projetos de pesquisa e extensão como o “Vida Pública”, que levam temas relevantes ao ambiente escolar, criando pontes entre o ensino superior e a educação básica, e permitindo que alunos universitários e estudantes de diferentes faixas etárias compartilhem saberes e aspirações. É nossa esperança que a história de Mario Molina e nossa passagem pela Escola Municipal Capistrano de Abreu inspirem essas crianças a acreditarem que juntos podemos ladrilhar o caminho comum em nossa república democrática e, quem sabe, a se tornarem também cientistas, pesquisadores e defensores do meio ambiente no futuro.
Responsável pelo projeto: Renata Bastos da Silva (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional – IPPUR – UFRJ)
Nome dos alunos do projeto: Ana Luiza Gomes, Arthur Neto, Bianca Bueno, Giovanna Grimoni, Isadora Mansur, Julya Moreno, Leonardo Buch, Lívia Schio, Luísa Carobini, Maria Fernanda Alves, Ruan Brommonschenkel, Felipe Tavares, Manuela Magalhães, Rayssa Caldas.
Diretora Adjunta da escola: Jaspe Marques de Mattos
Coordenadora Pedagógica: Mariana Saldanha
Professora da sala de leitura: Bárbara Mendes