Agência IPPUR: histórias e desafios
Boletim nº 34 – 03 de setembro de 2020
Por Equipe Agência IPPUR
Em clima de comemoração – 10 anos do curso de Graduação em Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social (GPDES), 100 anos da UFRJ e rumo aos 50 anos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) – compartilhamos com os leitores do Boletim a história, perspectivas e desafios da Agência IPPUR, parte recente dessa trajetória.
O ano era 2016 e o contexto era de greve nas Universidades Federais. No intuito de contribuir para a produção de textos que pudessem “traduzir” para um público mais amplo os enquadramentos analíticos produzidos pelos alunos do IPPUR, o mestrando Felipe Villela de Miranda, que vinha realizando pesquisa etnográfica e discutindo o “jornalismo gonzo” com a orientadora Soraya Simões, convidou um colega jornalista da BBC para participar de um dos Grupos de Trabalho formados durante a greve. Com a contribuição do jornalista, foram organizadas oficinas de textos com aquela finalidade. A orientação da pesquisa de Felipe viria a ser marcada por esse interesse comum na produção do texto do gênero etnográfico e do chamado “jornalismo gonzo[1]”.
A Agência IPPUR nasce então do engajamento político do corpo discente, com o objetivo de promover o imbricamento entre o pensar e o agir na realidade, marca histórica do IPPUR.
Em 2017, a Professora Soraya Simões, jornalista de formação e antropóloga, então coordenadora de Pesquisa e Divulgação, hoje nossa Coordenadora de Pós-Graduação stricto sensu, propõe a Agência IPPUR como um projeto institucional. A proposta, realizada sob a Direção do Professor Pedro de Novais, teve como concepção estruturar um núcleo gerador de informação e divulgação das questões e debates produzidos pelos pesquisadores do IPPUR, “o que ganha contornos mais nítidos quando apresentamos a proposta nos termos de uma agência de notícias, a Agência IPPUR. A Agência IPPUR teria como objetivo tornar acessível ao público mais amplo a produção do IPPUR, através do estímulo à participação do corpo de pesquisadores nos debates públicos”, conta Soraya Simões.
Entre suas atribuições estão: i) acompanhar políticas de planejamento urbano e regional e gestão pública, para noticiar pontos de vista e interpretações formuladas nas pesquisas em curso no instituto; ii) fazer o levantamento de dissertações e teses defendidas no IPPUR; iii) estabelecer esta produção como referência para a qualificação dos mais variados debates públicos nos campos do planejamento e da gestão; iv) realizar entrevistas com os pesquisadores do instituto sobre temas concernentes às suas pesquisas que estejam em pauta na arena pública; v) divulgar o andamento das pesquisas do corpo discente, em um espaço próprio destinado a apresentar entrevistas, filmes, fotografias e relatos das ações de pesquisa; vi) publicar pequenas notas sobre as atividades acadêmicas do Instituto, como defesa de teses e dissertações, oficinas PUR-GPDES, PUR e GPDES, seminários, ações de extensão etc; e vii) acompanhar o noticiário, visando inserir o conhecimento produzido pelo IPPUR nos debates públicos concernentes ao planejamento territorial e à gestão pública.
A ideia de pensar o projeto em termos de agência é “a possibilidade de produzir reportagens com vídeos, fotografia, notas, etnografias e se consolidar como um espaço de exercícios metodológicos e explicitação de “modos de olhar”, ou seja, das teorias e abordagens que informam e formam as pesquisas no IPPUR”, completa Soraya, idealizadora do projeto.
Além da Agência IPPUR, o projeto contou com a criação do Boletim Informativo do IPPUR, divulgado aos contatos do IPPUR com notícias de lançamento de livros, congressos, editais, bolsas, cursos e eventos acadêmicos, de modo a criar um espaço de circulação de informações de interesse comum a todos.
Sob a Direção Colegiada de Orlando Alves dos Santos Júnior, a coordenação de Pesquisa, Divulgação e Documentação foi assumida por Deborah Werner e Lalita Kraus, momento em que a Agência IPPUR foi articulada à área de Comunicação Social do curso de graduação em GPDES. Através do Boletim IPPUR, damos publicidade às atividades do Instituto, artigos informativos, pesquisas, seminários, editais para o público acadêmico e não acadêmico, o que se torna um grande desafio pela linguagem a ser utilizada, as ferramentas de comunicação a serem dominadas, a gestão de redes sociais, um mundo novo a ser conhecido.
Desde a concepção do projeto, a Agência IPPUR vem se configurando em um espaço aberto não apenas para a Comunidade do IPPUR, mas para outros cursos de graduação, pós-graduação e centros de pesquisa no Brasil no exterior, além do público não acadêmico. O Boletim chega a cerca de 2 mil pessoas, entre estudantes, pesquisadores, professores, técnicos e instituições parceiras, movimentos sociais, número que se amplia quando se considera a interação promovida pelas redes sociais. Para tanto, conta com o apoio de profissionais de jornalismo, pesquisadores da área de programação, pesquisadores da pós-graduação do IPPUR, extensionistas do GPDES, além dos Professores e Técnicos do IPPUR, e se consolida como um projeto de construção coletiva, comum, que envolve várias mãos, mentes e ideias!
O Boletim IPPUR
Stephanie Assad e Rafael Vidal, doutorandos do IPPUR, foram os responsáveis pelo layout do Boletim IPPUR, relançado em novo formato a partir de 2019. “A concepção do Boletim foi iniciada pelo esforço de elaborar uma ferramenta simples de criação/ edição – o BenchMark, com o intento não apenas de que toda equipe pudesse contribuir com a diagramação do Boletim, mas com a intenção de criar diálogos mais fluidos e horizontais, permitindo a adesão de novos membros na Agência, sem uma relação de dependência com aqueles que participaram da concepção da empreitada”, ressaltam eles.
O desenvolvimento da diagramação optou por um padrão, um layout, simples, de fácil edição, mas com uma identidade visual forte que permitiu tanto a periodicidade do Boletim, sem um novo e exaustivo processo de diagramação, como a abertura de novas peças gráficas a partir de uma base estabelecida.
“Destacamos que acionamos uma paleta cromática alinhada com a usada no universo representativo do IPPUR: mantendo a relevância dos tons vermelho, branco e preto. O Boletim foi diagramado com o esmero merecido para um boletim institucional, mantendo uma relação de diálogo e proximidade com outros boletins informativos de instituições/universidades públicas nacionais. Por fim, o mais importante: houve um imenso cuidado na criação de um produto acessível para os leitores, divulgado por email e com links diretos para o já existente site institucional do IPPUR, sendo imperativo manter tanto a qualidade como acessibilidade do Boletim”, completam.
Com o apoio de Thiago Pereira, obtivemos uma nova conquista. A criação de uma ferramenta de elaboração própria para o Boletim, realizada a partir do layout anteriormente criado por Stephanie e Rafael, que nos permitiu autonomia para elaborar o informativo em uma plataforma original, criada sob as demandas da Agência IPPUR. Thiago Pereira é estudante de Física da UFRJ e de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Estácio e compartilha a experiência:
“Participar do processo de criação de uma nova ferramenta para o Boletim foi um grande desafio, visto que precisávamos manter um layout já existente e criar uma ferramenta de usabilidade mais simples que a anterior, aproveitando os pontos positivos de outras ferramentas similares e ao mesmo tempo adicionando funcionalidades exclusivas feitas especialmente para um boletim acadêmico. Vem sendo um trabalho muito gratificante também, pois estamos promovendo a autonomia técnica do Instituto, através de um serviço customizado que possa ser ampliado de acordo com as necessidades do IPPUR. A criação da ferramenta foi feita no formato de módulos, para permitir a implementação de novas funcionalidades com as seguintes facilidades: módulos de criação e edição de boletim, de disparo dos boletins via e-mail, de visualização dos boletins no navegador e os módulos de gerenciamento de listas de recebimento. Atualmente, o foco tem sido criar funcionalidades adicionais para os módulos existentes e criar outros módulos para adicionar novos recursos a plataforma”.
Thiago ressalta ainda que a característica modular possibilita a adaptação e reutilização desse sistema para uso em outros institutos, laboratórios, núcleos de pesquisa etc., o que permite que essa autonomia chegue à universidade como um todo. Por esse aspecto, a partir da Agência IPPUR, vinculamos o campo de públicas e planejamento urbano e regional, ao campo tecnológico, com ênfase na inovação. “Atualmente vem sendo desenvolvida uma nova versão dessa plataforma que será utilizada e disponibilizada em breve no Github sob licença GPLv3, podendo assim ser usadas por outras instituições que desejarem”, enfatiza Thiago.
A Pauta do Boletim
A partir das orientações de Breno Procópio, jornalista contratado por seis meses pela Agência IPPUR, aprendemos várias técnicas editoriais, linguagem jornalística e instrumentos e ferramentas de mídia, transmitidos aos nossos colaboradores, estudantes do GPDES, da pós-graduação e dos laboratórios do IPPUR. Com a vinda de Raquel Isidoro, Clarice Rocha e Maria Paula Gusmão, as atividades de jornalismo foram por elas apreendidas para a elaboração e consolidação do Boletim desde a pauta até o envio aos leitores. A pauta é montada de maneira colaborativa, com envio de artigos, chamadas de editais de eventos, revistas, temas relacionados aos campos de PUR e Públicas e áreas correlatas.
Além das chamadas temáticas para artigos, recebemos propostas de publicação dos leitores, que encontram no Boletim IPPUR um espaço de intensa e profícua troca. Todas as matérias publicas no Boletim IPPUR estão disponíveis no site do IPPUR que, a partir do informativo, é continuamente alimentado com temas diversos, o que o torna mais dinâmico. As colaborações são propostas pelo corpo social do IPPUR, mas também por pesquisadores de outras instituições da UFRJ, do Brasil e do exterior, como México, Argentina, Chile entre outros, e podem, portanto, ser em português, inglês ou espanhol. Essa experiência evidencia a importância do informativo para o intercâmbio de ideias e divulgação de pesquisas acadêmicas e contribuições não acadêmicas, como poemas, crônicas, vídeos, podcast.
De acordo com Clarice Rocha, “em um ano trabalhando na Agência IPPUR, consegui perceber claramente o impacto do Boletim IPPUR na divulgação das pesquisas e eventos do Instituto como um todo. Principalmente no âmbito da graduação em Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social (GPDES), acredito que o Boletim teve um papel fundamental para a maior integração do curso às atividades do Instituto, proporcionando o espaço necessário para que os graduandos pudessem fazer parte da construção de iniciativas dentro do IPPUR. Recentemente, percebemos um grande aumento no número de contribuições de discentes nas matérias lançadas pelo Boletim, além de fazerem parte de sua própria construção, através da Agência IPPUR. Na minha perspectiva, eu percebo que o Boletim é espaço de diálogo fundamental para a difusão do conhecimento acadêmico, além desse trabalho servir como uma prestação de contas da universidade para a sociedade como um todo, criando um espaço de debates tão relevante para o atual cenário do país, frente aos ataques que o espaço acadêmico sofre constantemente”.
Com a pandemia Covid-19 e diante a necessidade de manter a coesão do corpo social do IPPUR em tempos de trabalho remoto e isolamento social, o Boletim IPPUR foi lançado semanalmente e se consolidou enquanto importante meio de comunicação institucional, mas mais que isso, proporcionou um espaço de manifestação de ideias, reflexões e debates no árduo e hostil momento em que vivemos. A retomada das atividades de ensino em período excepcional exigiu a adaptação do fluxo do informativo, agora quinzenal.
As redes sociais
Uma ação de suma importância para ampliar a divulgação do Instituto é a gestão das mídias sociais, que passaram a ser monitoradas por Raquel Isidoro, pesquisadora do Laboratório Espaço e colaboradora da Agência IPPUR.
“Na atualidade, fazer comunicação científica é aprender sobre o impacto que as mídias sociais desempenham, impulsionam e influenciam no cenário científico, social, político, cultural”, afirma Raquel.
As mídias sociais são um importante espaço para compreensão da defesa de investimentos públicos em ciência, educação e tecnologia. Além de favorecer a interdisciplinaridade, o aprendizado e o reconhecimento do pesquisador, da pesquisa e da ciência. Entretanto, visualizar as mídias sociais como um canal apenas de difusão abafa o intenso processo de produção de conteúdo cuja finalidade é promover uma comunicação que ensine, engaje, atraia e informe.
“As mobilizações para que instituições de ensino e fomento incentivem pesquisadores a produzir conteúdo nas mídias sociais aumentaram. No entanto, a produção de conteúdo e a gestão das mídias sociais com qualidade é trabalhoso, exige técnica, recursos financeiro e, em alguns casos, reconhecimento do próprio campo científico. As mídias sociais ainda não são populares nos espaços científicos. Um dos debates sobre a produção de conteúdo no ciberespaço é sobre pontuação em métricas de avaliação acadêmica, ou seja, que possam ser pontuados de modo semelhante aos artigos científicos. Nesse sentido, algumas revistas passaram a exigir, além do artigo, um mini vídeo do resumo do artigo”, ressalta Raquel.
No caso do Boletim IPPUR, nos últimos cinco meses, o objetivo foi consolidar o IPPUR nas mídias sociais. Apesar das plataformas do Facebook, Instagram e Twitter já existirem, não tinham engajamento e interação. O Facebook tinha um grande número de seguidores, aproximadamente 5 mil, mas com apenas 1% de interação. Ao assumir a gestão das mídias sociais, Raquel teve como proposta a consolidação da lista de e-mails internos para melhorar o fluxo de ações internas ao Boletim e engajar a rede interpessoal dos colaboradores e pesquisadores do Instituto. Além disso, o projeto envolve a consolidação do IPPUR no Instagram, uma plataforma em crescimento no aspecto de busca de conteúdo rápido, informativo e educativo. Como resultado, os engajamentos das mídias sociais do Instagram e Facebook, aumentaram para 8%. O número parece baixo, porém sem um investimento específico e sem impulsionamento de campanhas, nosso caso, a média é de 5%. Além disso, o aumento de visitas ao site do IPPUR aumentaram.
“Ter uma instituição nas mídias sociais envolve entender qual é a melhor mídia e o objetivo em um período de tempo específico, análise de rede, métricas e outros, além de assumir o risco de não ter o resultado esperado. No momento que assumi a gestão das mídias sociais, eu não era especializada em plataformas e mídias sociais. Sou pesquisadora científica sobre o que podemos chamar de ciência do digital, mas as expertises de ação demandaram horas de dedicação. Na Agência IPPUR tive esse incentivo, de aprendizado contínuo. O trabalho em equipe e assumindo as redes sociais dentro da Agência IPPUR fui aprimorando meu conhecimento, realizando cursos de análise e gestão de mídias sociais e de ciência de dados, além de monitorar páginas diversas (desde empresas, institutos e projetos). Recentemente, passei a focar minhas consultorias a projetos de impacto social para mídias sociais. Participar da Agência Ippur foi e é ser direcionada a diversas possibilidades e crescimento. Eu cresci, a agência cresceu, nossa comunicação cresceu e as interações nas mídias sociais também. O resultado foi superior ao esperado”, conta Raquel Isidoro, que é colaboradora voluntária da Agência IPPUR.
Os Debates IPPUR e o Canal da Agência IPPUR
Em função da pandemia, outros projetos que estavam apenas nos planos precisaram ser executados. Esse foi o caso do Canal Youtube da Agência IPPUR. A partir da proposta da doutoranda Nathália Azevedo, o canal foi criado para promover os Debates IPPUR, com o intuito de promover a discussão sobre temas relevantes da área de planejamento urbano e regional, gestão pública e áreas afins, a partir de propostas dos pesquisadores, graduandos, pós-graduandos, técnicos e professores do Instituto.
Durante a suspensão das atividades de ensino, os debates ocorreram semanalmente. Com o retorno do período letivo excepcional, a atividade ocorre nas terceiras segunda-feiras de cada mês. Desde abril, quando realizamos o primeiro debate, já foram transmitidas 10 lives, com a participação da Comunidade IPPUR e público externo. O canal conta com mais de 800 seguidores que acompanham as transmissões do canal e enviam comentários, perguntas e sugestões.
A criação do canal viabilizou ainda a realização de seminários, cursos e atividades de extensão em caráter remoto, assim como um espaço para a postagem de entrevistas, vídeos e palestras.
O Canal se consolida, portanto, como mais uma ferramenta de difusão do conhecimento e troca de saberes. Para a transmissão, contamos com a colaboração de extensionistas dos projetos de extensão do Instituto e do servidor Will Boente, que realizam a divulgação, a transmissão e matérias sobre o evento para o Boletim, entrevistas, etc.
A partir do canal da Agência IPPUR, ampliamos o alcance de nossas discussões para além do Boletim IPPUR e de produções acadêmicas, se configurando em uma excelente ferramenta de difusão para públicos distintos.
Desafios para o futuro
As ações futuras envolvem a publicação do Boletim em outros idiomas, o que demanda uma reformulação e tradução do site institucional do IPPUR; a tradução em Libras das atividades no Canal da Agência IPPUR; e a publicação em formato de revista dos artigos enviados ao Boletim IPPUR.
Além disso, a Agência está organizando os vídeos institucionais dos laboratórios, núcleos e grupos de pesquisas do Instituto, entrevistas com Professores, técnicos e discentes, assim como a publicação em nosso canal de palestras e atividades realizadas presencialmente, por ora arquivadas.
Dessa maneira, buscamos consolidar a Agência IPPUR como um informativo de referência para as áreas de Planejamento Urbano e Regional e Gestão Pública e um espaço de difusão do conhecimento e promoção do intercâmbio entre o público acadêmico e não acadêmico. Todos esses desafios estão subordinados a um maior: o de fortalecer o projeto institucional da Agência IPPUR, como um espaço de registro e preservação da memória, perene, capaz de expressar a pluralidade, a diversidade e interdisciplinaridade que marcam o IPPUR, sua contribuição intelectual e política em seus 50 anos de história.
Para maiores informações, clique aqui.
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[1] Estilo jornalístico criado pelo americano Hunter S. Thompson, na década de 1980, em que o jornalista/narrador é afetado pelas circunstâncias. Para o jornalismo gonzo, a narrativa e o narrador são tão importante como os fatos. Esse estilo relaciona-se ao que se discute na etnografia, sobretudo a partir do debate que se estabelece no campo da antropologia, também nos anos 1980.