BBB 21 não é Wakanda: entre a superficialidade do debate racial e a profundidade do racismo

Boletim nº  48 – 14 de julho de 2020

 

Por Rita Maria da Silva Passos¹

 

“Nós Temos só um jeito de nascer e muitos de morrer”

(Carolina Maria de Jesus em Quarto do Despejo).

 

Para começar evoco as minhas Iyalodês: Lélia Gonzalez e Conceição Evaristo. Com Lélia apreendo a importância de me expressar no ancestral “pretoguês”, baseado numa oralidade que apreende a formação étnica e linguística preta do Brasil. A partir da amefricanidade de Lélia, recorro a esta categoria com dinâmica histórica própria norteada pelos mais distintos contextos que a constituem e, assim, possui força epistêmica, para produzir formas de pensar, produzir conhecimento a partir dos subalternizados, possibilitando mulheres e homens negros e indígenas serem sujeitos do conhecimento.

Em Conceição, tomo de empréstimo o conceito cunhado de “escrevivência” que se refere à capacidadea capacidade de escrever a partir da sua própria vivência. Desta forma, reafirmo seu preceito  e o premeditado ato de traçar uma escrevivência a partir de uma análise teórica do sobre o racismo, em  especialmente  num contexto de pandemia com a intensificação da necropolítica e recrudescimento da autoexpansão capitalista.

Esse mundo DC (Depois da Covid) tem acentuado todas as desigualdades sociais no mundo e no Brasil. Vários estudos apontam o aumento do desemprego entre os negros, a dupla jornada das mulheres, sobretudo as pretas que compõe a linha de frente na atividade de enfermagem, o maior número de óbitos entre os negros pela COVID, a espetacularização das mortes de pretos por agentes de segurança, aqui e no exterior.

Desta forma, a precarização das vidas negras foi reforçada neste período pandêmico, não por um  pretenso novo normal, mas por uma necessidade de reorganização da expansão capitalista diante de mais essa crise. Esta crise da COVID19,  pode ser entendida como pertencente a crise estrutural do capital, definida por Mészáros (2013) se diferencia por: seu caráter universal, não se restringindo a uma determinada esfera e/ou ramo particular de produção; seu alcance global, atingindo a vários países, com alcance planetário; sua escala de tempo permanente; podendo ser considerado rastejante, sem que haja um momento específico de ápice.

Nesta perspectiva, é possível presumir que todo o movimento “Vidas negras Importam”, exportado para cá, e todo otoda a frenesi antirracista precisam ser desacreditadosa, necessitando restaurar todos os valores discursivos, práticos e ideológicos, para colocar nos termos de  Taguieff (1977). Portanto, não se tratando de uma questão específica, mas  restaurar capital sua essência: sua autoexpansividade, usando e abusando do racismo estrutural. 

 

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¹Doutoranda de Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ). Mestra em Estudos Populacionais e Pesquisas  Sociais (ENCE/IBGE). Especialista em Sociologia Urbana (PPGCIS/UERJ). Bacharela em Ciências Econômicas (DCE/UFRRJ).