Caminhos e obstáculos do GPDES na visão de estudantes egressos do curso

Boletim nº 76, 05 de março de 2023

 

Caminhos e obstáculos do GPDES na visão de estudantes egressos do curso

Colaboraram com a matéria os/as discentes do GPDES Amanda Canesso, Beatriz Freitas, Breno Vieira, Gabriela Morais, Isabelle Cristina, João Lucas Costa, Luiza Bahia, Pietra Cristina Soares e Thayná Moreira

 

Fundado em 2010, o curso de Gestão Pública para Desenvolvimento Econômico e Social é mais novo em comparação com diversas outras graduações da UFRJ. As amplas perspectivas de inserção no mercado de trabalho e a abordagem pluridisciplinar da grade curricular exercem forte apelo sobre um considerável contingente de estudantes. O GPDES, como os cursos ligados a qualquer instituição de ensino público no Brasil, não está isento de desafios contínuos. No entanto, é bom considerar que os cursos mais recentes, oriundos do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), enfrentam obstáculos ainda mais desafiadores na busca por sua consolidação, relativos à permanência dos estudantes, ao aprimoramento do corpo docente e à adequação da infraestrutura disponível.

No intuito de apresentar uma perspectiva mais abrangente acerca do curso, optamos por compartilhar relatos de egressos do GPDES, entrevistados através de um questionário. Essas narrativas proporcionam uma melhor compreensão das dificuldades enfrentadas pelos gestores públicos formados na UFRJ durante o período universitário e na transição para o mercado de trabalho, abrangendo experiências desde o estágio até o início da carreira profissional.

Obstáculos

Dentre os obstáculos relatados pelos entrevistados, alguns apontam a dificuldade de permanência na universidade quando se é um estudante morador de regiões periféricas e de baixa renda. Em entrevista, o egresso e atualmente professor substituto da UFRJ Carlos Henrique destaca: “Os obstáculos foram aqueles que a realidade brasileira impõe: a necessidade de ter alguma fonte de renda e, por conta disso, não poder se dedicar exclusivamente ao exercício intelectual.” 

Para além destes fatores, os egressos entrevistados também relataram o problema orçamentário da universidade após o governo Temer e a dificuldade em associar o GPDES às áreas de administração e administração pública para fins da participação em concursos e outras oportunidades do mercado de trabalho. 

Inserção no mercado

Muitos dos egressos entrevistados alegaram que foi difícil conciliar os horários das disciplinas do curso com as oportunidades de estágio – alguns inclusive tiveram que trancar as disciplinas do primeiro horário, das 13h30 às 15h10, para estagiar. Destaca-se a experiência de Raphael Moraes da Rosa, atualmente Diretor de Planejamento Estratégico e do Núcleo de Ouvidoria e Incremento à Transparência da Controladoria Geral do Município de Niterói. Segundo seu relato, a dificuldade de conciliação dos horários de estudo e estágio foi sanada pela oferta de uma oportunidade para estagiar dentro da própria Universidade, na Pró-reitoria de Pessoal.

Outros depoimentos revelam a existência de uma rede de apoio criada entre os próprios estudantes que, à medida em que conseguiam oportunidades de estágio, divulgavam o curso nesses espaços, abrindo novas oportunidades para os colegas. Em 2017, com a criação da Ânima Pública, empresa júnior criada pelos estudantes do curso, foram promovidas feiras de estágio que também ajudavam na divulgação de novas vagas. Nas entrevistas também foi ressaltada a necessidade de um maior esforço da coordenação de estágio no apoio à divulgação dessas vagas, além de mudanças no sentido de permitir que atividades de iniciação científica possam ser contabilizadas como horas de estágio. 

Quando questionados acerca das atividades feitas durante o curso que auxiliaram na formação e na conquista do primeiro emprego, as diversas respostas provam quão importante é o envolvimento dos estudantes com atividades de extensão, monitoria, iniciação científica, projetos de pesquisa, palestras, oficinas e, é claro, a experiência de anos de estágio profissional.

O que pode melhorar

Diante das dificuldades de inserção no mercado relatada pelos graduandos do GPDES, perguntamos aos egressos o que a coordenação do curso poderia fazer para ajudar. Dentre as sugestões estão:

  • Melhorar a grade horária do curso, principalmente alterarando o primeiro horário (13:30) ou ao menos forneceendo as matérias em horário alternativo;
  • Detalhar as múltiplas frentes que o curso possibilita;
  • Ofertar mais disciplinas na área de dados, pois o mercado tem interesse e está aberto para áreas afins;
  • Alinhar a grade curricular com as demandas da atividade profissional.As disciplinas devem casar mais com a realidade do setor público, pois infelizmente no GPDES há uma grande carga teórica e repetitiva que acaba não focando em dados públicos e trâmites administrativos que fazem parte dia a dia. Por exemplo: quando se estuda Licitação, o foco nas modalidades acaba não incorporando a prática, como a elaboração de um Termo de Referência, ETP, etc;
  • Preparar melhor os alunos para a realização de concursos públicos;
  • Estabelecer um convênio com as prefeituras e fazer parcerias com o terceiro setor, para que haja mais oportunidades de emprego;
  • Implementar uma política de integração, mapear os setores e cargos/atividades desempenhadas pelos egressos e proporcionar o diálogo entre os já formados e os atuais alunos;
  • Fundamental que o curso seja categorizado como administração ou administração pública, pois o atual nome do curso acaba sendo desconhecido pelo mercado de trabalho. 

Para os futuros gestores

Frente aos obstáculos citados, como orientação para os futuros gestores, os egressos deixam algumas dicas:

  • O conhecimento está além da sala de aula. Envolva-se em oficinas, iniciações científicas e projetos de extensão. 
  • Faça matérias para além do GPDES. Conhecer áreas diferentes para descobrir seus interesses é de suma importância. 
  • Tenha mais confiança em seu potencial de liderança e de entrega.
  • O Networking nesse momento vai ser fundamental, são as pontes criadas durante a graduação que impulsionarão sua trajetória e reputação em muitos processos. 
  • Aproveite as matérias do curso para se preparar para concursos públicos, é um modo de garantir estabilidade e boa remuneração. 

Conclusões das entrevistas

Ao todo foram entrevistados 16 egressos do curso. Dentre estes, 71,4% hoje atuam no setor público por meio de cargos comissionados; 14,3% atuam no terceiro setor e os outros 14,3% mudaram de área,  evasão que pode ser reflexo da difícil inserção dos profissionais formados no curso no mercado. As respostas coletadas sobre os obstáculos ainda são convergentes com a realidade atual. A inserção no mercado de trabalho ainda depende de uma rede de apoio criada entre os estudantes, no entanto, hoje já é possível enxergar mais processos seletivos que colocam o curso de Gestão Pública como requisito e as pessoas já olham para o GPDES com uma visão bem direcionada.

Como resultado desta breve pesquisa, apresentamos ainda a entrevista do Raphael Moraes Rosa, atual Diretor da Ouvidoria Geral do município de Niterói, que se formou no curso em 2017: https://1drv.ms/f/s!Aly2YqCgKeOYhVjpWr9rokAhvn6K?e=bEIugm