Capitalismo Histórico-Espacial no Brasil
Boletim nº 7 – 04 de dezembro de 2019
Como se deu a desconcentração espacial da produção capitalista no Brasil? A tese “Capitalismo histórico-espacial no Brasil: sistemas de circulação, integração nacional e desenvolvimento” (IPPUR/UFRJ), do pesquisador Autenir Carvalho de Resende, busca estabelecer os marcos de uma “economia da circulação espacial” brasileira, a partir da análise dos sistemas de circulação material terrestre (rodoviário e ferroviário), lançando mão das categorias “economias de comunicação” e “fluidez espacial”.
Orientada pelo Prof. Dr. Carlos Brandão, a tese do pesquisador Autenir Carvalho de Resende foi defendida no ano de 2018 e representa mais um resultado do IPPUR.
Segundo Autenir de Resende, a tese parte do seguinte questionamento: como vem se conformando o capitalismo histórico-espacial brasileiro e seu respectivo processo de integração nacional, dadas as agudas e remotas condições de isolamento e fragmentação do país?
“Defende-se que a melhor linha de interpretação para estes fenômenos socioespaciais advém da compreensão geral e do reconhecimento da centralidade da circulação no processo de reprodução e acumulação capitalista, etapa vital de qualquer sistema econômico baseado nas trocas; e cuja importância tem sido persistentemente ignorada pela corrente majoritária da ciência econômica”, defende o pesquisador.
O trabalho mostra, por exemplo, que sobre os sistemas de circulação, e sua atuação no sistema capitalista e para o desenvolvimento econômico, é possível destacar, desde logo, quatro características principais: i) grande potencial de encadeamento forward e backward; ii) vigorosos e auspiciosos efeitos multiplicadores sobre as interramificações econômicas e a economia como um todo; iii) importância particular do setor de transportes e comunicações enquanto setor econômico, e, especialmente; iv) a essencial capacidade de fluidificação do espaço, com a qual, aparentemente, as sociedades capitalistas se estabelecem e se transfiguram espacialmente.
Autenir de Resende explica que por economias de comunicação entende-se o conjunto variado de economias externas, diretas e indiretas – especialmente aquelas do tipo economia de aglomeração/urbanização –, decorrentes da fluidez espacial.
Por sua vez, considera-se a fluidez espacial como a capacidade comunicacional que determinada localidade disponibiliza às pessoas, e, especialmente, aos agentes econômicos em geral.
“Dito isso, toma-se como hipótese desta pesquisa a problemática de que, no modo capitalista de produção e acumulação, e, notadamente, em regiões de ocupação tardia (como o Brasil), as pessoas e o capital se movimentariam e se fixariam no espaço, condicionados às infindas determinações ambientais, fisiográficas, políticas, econômicas, e, especialmente, sobre estruturas de circulação moldadas por diferentes níveis de economias de comunicação e fluidez espacial”, argumenta.
Desse modo, na Tese o pesquisador recorre à introdução do termo “ocupação tardia”, termo relacional para distinguir, por exemplo, a dinâmica capitalista espacial dos países europeus em relação a países da América Latina; ii) a fisiografia das regiões é característica importante, tanto na determinação dos padrões de ocupação, quanto dos padrões de circulação; iii) os sistemas de circulação não são meros elementos passivos, ou reativos, no modo de produção capitalista, mas sim, fatores decisivos do desenvolvimento das nações e regiões, embora, insuficientes em si mesmos.
“A história demonstra que os corpos d’água e os caminhos e estradas acomodaram em suas margens as primeiras aglomerações humanas e, consequentemente, as primeiras cidades e civilizações que se tem notícia, de modo que, as possibilidades de circulação intrínsecas a essas duas estruturas espaciais teriam sido decisivas para a fixação humana e o início da produção e divisão do trabalho”, relata o autor.
É a partir dessa constatação de que as pessoas e a produção (e, consequentemente, trabalhadores, capitalistas e investimentos) se concentrem em locais com alguma densidade prévia de recursos, mercados, serviços.
O Brasil seria, portanto, um caso exemplar deste processo: por se tratar de um imenso território de desigualdades, onde o “capitalismo tardio” somente atingira seu auge após a Segunda Guerra Mundial, em meio a um ambiente desenvolvimentista-expansionista.
Deste modo, a partir da segunda metade do século XX, sobretudo, com a chamada “industrialização pesada”, os processos de contiguidade, penetração e respingamento, bem como, seus respectivos padrões espaciais, encontrar-se-iam mais explícitos, pois, apenas desde então, os sistemas de circulação teriam se estendido à quase totalidade do território nacional.
Acesse aqui a tese “Capitalismo histórico-espacial no Brasil: sistemas de circulação, integração nacional e desenvolvimento”.