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Desafios e Potencialidades da Condição Periférica: 30 edições de resistência da Semana IPPUR

Publicado em 11/11/2025

CATEGORIAS: Boletim IPPUR, Destaques, Notícia PPGPUR, Notícias IPPUR

Boletim nº 91, 11 de novembro de 2025

 

Mariana Guimarães

Extensionista da agência IPPUR, graduanda da FAU UFRJ e integrante da comissão organizadora da 30ª Semana IPPUR

 

Comissão Organizadora

Aconteceu entre os dias 13 e 17 de outubro a 30ª edição da Semana IPPUR, o evento mais importante do calendário do Instituto. Esta edição marcou não apenas o número de 30 edições de Semanas IPPUR realizadas, mas também uma ampliação histórica na escala do evento, em número de participantes e de trabalhos inscritos. Além disso, o evento ocorreu em um importante momento de reestruturação institucional em que o IPPUR retorna à ocupação de sua sede original no Edifício Jorge Machado Moreira, após o incêndio de 2016.

Esta edição propôs como tema central O Planejamento Urbano e Regional e a Gestão Pública nas Periferias do Capitalismo: Desafios e Potencialidades da Condição Periférica, a partir do qual se organizaram as mesas redondas e sessões temáticas, com temas transversais à temática central do evento, às discussões que vêm sendo travadas no campo, bem como às linhas de pesquisa, ensino e extensão do IPPUR.

Assim, durante os 5 dias de evento, ocorreram 3 mesas redondas nas quais debateram convidados externos e professores da casa, 2 conferências com convidados internacionais, uma linda homenagem póstuma ao professor Robert Pechman, a apresentação de 16 trabalhos em formato de pôster e de 134 trabalhos na modalidade oral em 20 sessões temáticas, além do lançamento de 5 livros e da realização de 16 sessões livres propostas pelos laboratórios do IPPUR. Esses números representam o maior número de trabalhos inscritos e apresentados desde que se tem registro – o que coincide com o período pós-pandemia – inclusive com um significativo interesse de contribuições por parte da comunidade externa ao IPPUR.

Mesas Redondas

Fazendo um breve resgate da história da Semana IPPUR, muito bem contemplada na Sessão de Encerramento com a Homenagem aos 30 anos que contou com a participação de professores que marcaram a história do Instituto, é importante lembrar como se deu o início dessa caminhada. Como trouxeram as falas dos professores na mesa, a Semana IPPUR surge com a intenção de criar um espaço de intercâmbio entre os grupos de pesquisa que se fortaleciam na década de 80, gerando por outro lado uma preocupação quanto à fragmentação da unidade institucional que sempre se fez tão cara ao Instituto que então crescia. Segundo o relato do professor Vainer durante a Sessão de Encerramento, os encontros entre os grupos de pesquisa se davam majoritariamente nos encontros nacionais e internacionais, enquanto o diálogo interno se tornava prejudicado.

Sessão de Encerramento: Homenagem aos 30 anos de Semana IPPUR

Com a criação do programa de doutorado em 1993, veio a organização da primeira Semana PUR. A primeira edição teve contribuições restritas aos professores, com trocas sobre suas experiências e projetos de pesquisa. Posteriormente, a participação foi ampliada ao corpo discente com o passar dos anos, consolidando o evento como o mais importante espaço de trocas na comunidade Ippuriana.

Outro ponto importante a se destacar na história é que o programa de doutorado em Planejamento Urbano e Regional surge do debate sobre a relevância de um programa de pós-graduação em Planejamento em um contexto em que se acreditava no fim do Planejamento, surgindo assim o PPGPUR como um ato de resistência. E que podemos dizer, diante da atual conjuntura, que o caráter de resistência permanece. 

Na linha da resistência, vivenciamos esta edição da Semana IPPUR em um período de longa reestruturação institucional após o incêndio no edifício-sede que ocorreu em 2016 e forçou as atividades do IPPUR a fragmentarem-se pelos campi da UFRJ, dificultando ainda mais o esforço de integração na comunidade Ippuriana, apenas 6 anos após a criação do curso de graduação, o GPDES. O 5º andar do Edifício Jorge Machado Moreira volta a ser ocupado apenas em 2023. Neste ano de 2025, os laboratórios e salas de professores da sede do IPPUR voltam a ser ocupados, ainda com muito por fazer em termos de organização e infraestruturação do espaço, mas significando uma importante retomada na trajetória. 

Os 134 trabalhos inscritos para as sessões temáticas significaram um aumento de quase 150% em relação ao ano anterior, sendo a maior edição da Semana IPPUR no período pós pandemia, em termos de trabalhos recebidos e participantes. Recebemos diversas manifestações de interesse de participação também por parte da comunidade externa, demonstrando a importância do instituto no campo de PUR e o potencial de trocas e debates que a Semana IPPUR pode proporcionar. Durante a semana, presenciamos o corredor e as salas cheias.

 

Registros de Sessões Livres e Temáticas

Por outro lado, a organização da maior Semana IPPUR da história se deu em meio a um contexto também histórico de subfinanciamento das universidades públicas. Em relação ao ano anterior, tivemos aproximadamente um quinto do orçamento da CAPES para realização de eventos, além de não termos contado, a princípio, com outras fontes de fomento como a FAPERJ, o que fez a comissão organizadora buscar, junto ao corpo técnico, à direção e aos outros responsáveis do IPPUR e do CCJE, outras formas de financiamento que possibilitassem a realização do evento, em um prazo justíssimo.

Conferência de Encerramento com Patrick Bond

Assim, pode-se dizer que as próprias condições nas quais o evento da 30ª edição da Semana IPPUR se inseriu são objeto de debate do tema central. Os desafios e as potencialidades da condição periférica não apenas relacionados ao Planejamento Urbano e Regional e à Gestão Pública, mas também a todas as atividades inseridas no meio acadêmico da universidade pública, especialmente quando nos referimos a uma universidade combativa e alinhada aos valores democráticos e demandas populares, quando a própria realização de eventos, a abertura das portas da universidade e a permanência dos corpos docente, discente, técnico e terceirizado são diariamente ameaçada pela supressão das condições materiais que permitem seu pleno funcionamento.

O desenvolvimento das potencialidades da condição periférica requer a compreensão clara de seus desafios. Estar na periferia global significa ter os recursos sistematicamente drenados por uma lógica rentista que alimenta o capital internacional e nacional – através, por exemplo, das mais altas taxas de juros do planeta e dos planos de austeridade fiscal que garantem o pagamento dos rentistas – e retira financiamento de políticas públicas essenciais para a qualidade de vida da população, o desenvolvimento e a soberania nacional, dentre elas a educação superior. Significa também a subordinação e importação de paradigmas eurocêntricos que não se adequam às realidades locais – que configuram o funcionamento das instituições, modelam a educação e os costumes, criando e aprofundando desigualdades, especialmente na esfera socioeconômica. 

A saída necessariamente passa pelo desenvolvimento de soluções próprias, a partir da leitura crítica e situada de nossas próprias complexidades. No lugar da importação de modelos originalmente construídos para dar conta de contextos externos e inseridos em posições centrais do sistema-mundo capitalista¹, o desenvolvimento de novas epistemologias que respondam às nossas próprias questões. Para isso, também é importante superar as práticas fragmentadoras de saberes, valorizar os conhecimentos e diversidades dos territórios e fortalecer comunidades, inclusive fortalecendo a universidade pública como um espaço importante de produção de conhecimento decolonizado.

Nesse contexto, reforça-se a importância destes espaços de interlocução como a Semana IPPUR, nos quais a troca, o encontro e o confronto de ideias contribuem para a construção de horizontes, a formação de profissionais e o fortalecimento de uma universidade crítica, aberta ao debate e que contribua no processo de emancipação. E é claro que não basta a vontade de criar os espaços de debate, é necessário também lutar para que eles sejam possíveis, por meio da disponibilidade orçamentária, das condições de trabalho dignas para professores, técnicos e terceirizados, das condições de permanência dos estudantes, das políticas afirmativas que assegurem redistribuição, reconhecimento e diversidade na universidade e mantenham a continuidade das tradições e inovações que constituem nosso coletivo.

 

1 IPPUR. Semana IPPUR 2025. IPPUR, 2025. Disponível em: <https://ippur.ufrj.br/eventos-e-certificados/semana-ippur-2025/>. Acesso em: 02 de novembro de 2025.

 

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