Distribuição espacial da contaminação de Covid-19 nas plataformas das bacias de Campos e Santos: cluster de Covid-19 no campo de Marlim
Boletim nº 20 – 14 de maio de 2020
Por Francismar Cunha Ferreira
Com a pandemia da Covid-19 diversas adaptações foram/estão sendo feitas nas rotinas dos trabalhadores. Entretanto, não se pode afirmar categoricamente que essas alterações visam o bem estar e a saúde do trabalhador. Esse posicionamento ganha força quando se verifica que em alguns setores produtivos, como a indústria petrolífera, assiste-se ao aumento do número de casos de pessoas infectadas pelo vírus.
Até o dia 23/04 havia 10 plataformas de produção de petróleo e gás com registro de casos de trabalhadores infectados entre as bacias de Campos e Santos (ver figura a seguir): a P-26, P-18, P-35, P-20, P-33 (no campo de Marlim na Bacia de Campos), P-62 (campo do Roncador) e P-50 (campo Albacora Leste), todas da Petrobras; e as FPSOs Cidade de Santos e Cidade de Anchieta, ambas afretadas pela Petrobras, respectivamente, da japonesa Modec e da holandesa SBM Offshore. Para além das plataformas, têm-se constatações de casos de contaminação nos campos terrestres no Amazonas, conforme apontaram João Gilberto e Francisco Gonçalves em texto publicado no dia 29/09 na página da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET).
Em geral, foram confirmados, até o dia 28 de abril, 625 casos de Covid-19 nas empresas que executam atividades de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural no Brasil, sendo que 243 profissionais acessaram instalações marítimas de perfuração e produção. O total de suspeitos nessas empresas soma 1.445, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP).
Dentre os trabalhadores expostos à contaminação, chama a atenção a situação dos terceirizados. De acordo com a Federação Única dos Petroleiros (FUP), as condições desses trabalhadores pioraram no contexto da pandemia, pois além de se encontrarem em situações precárias de trabalho, estão sob risco de contaminação associado ao temor de perder seus empregos. O pior, segundo a FUP, é que algumas empresas ainda estão amplificando esses problemas ao não cumprir a legislação trabalhista, as convenções e acordos feitos com os sindicatos.
Em síntese, nota-se uma tendência de aumento de casos de contaminação, especialmente nas plataformas no campo Marlim, onde se percebe um verdadeiro “cluster de COVID-19”. Somam-se a isso as pressões sobre os trabalhadores, especialmente os terceirizados. Em paralelo, a Petrobras tem afirmado que vem adotando medidas preventivas alinhadas às recomendações de autoridades sanitárias e órgãos reguladores. A petroleira afirmou para a Reuters que reduziu o efetivo em unidades operacionais, tomando medidas mais rigorosas no setor offshore, como isolamento domiciliar monitorado e triagem médica no pré-embarque, com suspensão do embarque de quem apresentar qualquer sintoma. Entretanto, de acordo com João Gilberto (Diretor do Sindipetro Caxias), a Petrobras impôs um plano de resiliência que reduz a jornada e salários dos empregados administrativos em 25% e insiste em impor soluções sem ouvir ou negociar com representantes dos trabalhadores. João Gilberto aponta ainda que o atual governo e sua gestão na Petrobras se utilizam da Covid-19 para acelerar o desmonte e entrega da Petrobrás à iniciativa privada, um grande contrassenso, quando bancos, empresas de aviação, dentre outros, pedem socorro ao Estado em função da crise.