Livro: “Método e Ação no Pensamento de Ana Clara Torres”

Boletim nº 45 – 17 de março de 2021

 

Relembrando os dez anos de falecimento da socióloga e professora do IPPUR Ana Clara Torres Ribeiro, o destaque desta edição é o livro “Método e Ação no Pensamento de Ana Clara Torres”, lançado em 2016 pela editora Letra Capital, sob organização de Tamara Cohen Egler (IPPUR/UFRJ), Hector Atílio Poggiese e Elis de Araújo Miranda, que suscita e homenageia algumas das contribuições acadêmicas e políticas da pesquisadora. Com textos de pesquisadores do GT Desenvolvimento Urbano do Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais (Clacso), a obra ilustra o método e o campo da cartografia da ação, através de lembranças da atuação presente e humanitária da socióloga.

A seguir, uma homenagem, escrita pela professora Tamara Egler (IPPUR/UFRJ), sobre a organização do seminário “Diálogos com Ana Clara Torres Ribeiro”:

 

“São dez anos que nos separam de sua partida. Estamos dando início à organização do seminário Diálogos com Ana Clara Torres Ribeiro, que esperamos realizar até o final do ano, para rememorar e trazer a público a sua importante contribuição ao campo do planejamento urbano e regional. O seminário está organizado para levar adiante a tarefa de examinar os principais eixos de sua pesquisa e revelar os caminhos que a conduziram para a enorme tarefa de construir o campo da cartografia da ação.

Podemos reconhecer a complexidade do seu pensamento quando examinamos os eixos da sua precursora pesquisa sobre movimentos sociais urbanos, o avanço do pensamento que considera o lugar da cultura nos processos espaciais, as homologias estruturais que definem a urbanização Latino Americana, a formulação do método da pesquisa para processos espaciais; o que lhe permite construir o Campo da Cartografia da Ação. O seminário será, assim, estruturado a partir dos eixos que articulam o seu pensamento.

Na condição de professora do IPPUR, respondia por disciplinas optativas e também pela disciplina Métodos e Técnicas de Pesquisa, na qual formou uma geração de doutores. Sempre repletas de alegria e gargalhadas, suas aulas traziam a dimensão do método e da ação social na construção da pesquisa urbana. Muito rigorosa, não poupava esforços para ler e reler os trabalhos dos estudantes. Era uma professora capaz de escutar e dialogar, penetrava no pensamento do outro para ajudar a desfazer os nós e revelar o caminho do exercício da investigação, para a difícil tarefa de formulação do conhecimento novo. Com sua enorme generosidade ensinava o método desenvolvido na sua pesquisa. Tinha o dom de perceber a inteligência de cada um e conduzir para a alegria do conhecimento.

Coordenava o Laboratório de Pesquisa Lastro, no qual desenvolvia as linhas de sua pesquisa com doutorandos, mestrandos e ICs. Muito ativa, era uma incansável leitora das teses de doutorado ou das dissertações de mestrado de seus alunos e andava pelas madrugadas queimando as pestanas para revelar os caminhos da pesquisa científica.

O seu método de investigação tem como ponto de partida o concreto e a vida no espaço, porque compreendia a relação social apenas no lugar. Isso conduz à compreensão do processo espacial como resultado da marca da ação social no espaço. Segundo esse método a produção de conhecimento novo deriva da capacidade de análise das condições concretas na vida cotidiana. No seu diálogo com Lefebvre e Milton Santos, faz avançar o campo quando compreende a importância da sociologia do presente e a compreensão do processo espacial como ação social mediada pela técnica, assim como está escrito no título de sua conferência, na defesa de sua titularidade. Essa forma de pensar penetra no pensamento coletivo, com seus ensinamentos vai permear o tecido social por onde passa.

Socióloga de formação, aplicava na vida cotidiana a relação social dada por princípios éticos. Ela andava e conversava com todos e mantinha a mesma atitude de respeito, do mais simples funcionário ao mais alto escalão da academia. Não perdia jamais o foco do seu trabalho, que era formar pessoas para elevar a capacidade de compreender o mundo em que vivemos e possibilitar a investigação criativa e criadora. Nossa responsabilidade é levar ao público a sua enorme contribuição à ciência social latino-americana para que se possa manter vivo o seu espírito em defesa da igualdade, justiça e liberdade de ação.”

 

Para acessar o livro “Método e Ação no Pensamento de Ana Clara Torres”, clique aqui.