Relato: Mesa redonda – A Favela Vista de Dentro
Boletim nº 49 – 04 de agosto de 2021
Por Carlos Vinicius Santos M. Alves¹
Debate sobre o filme “5x Favela – Agora por Nós Mesmos”. O debate ocorreu no dia 31 de maio de 2021 e contou com a participação de: Humberto Kzure (UFRRJ), Luciano Vidigal (Nós do Morro), Cacá Diegues (Cineasta), Manoel Ribeiro (Urbanista), Alex Magalhães (IPPUR/UFRJ).
A mesa redonda debateu questões relacionadas ao espaço urbano tomando como referência o filme “5x Favela – Agora por Nós Mesmos”. O filme foi dirigido por cinco jovens cineastas e moradores de favelas, cada um dos diretores envolvidos no filme retratou a sua favela de origem e por isso o filme é dividido em cinco partes.
A live estava sendo transmitida pelo canal da Agência IPPUR no YouTube, entretanto, por motivos de direitos autorais relacionados ao filme que estava sendo exibido, a transmissão foi interrompida e prosseguiu na página do IPPUR no Facebook.
Logo no início da mesa redonda, Humberto Kzure comentou sobre os “Espaços de cotidiano” que são vivências que fazem valer os direitos de uma sociedade e esses direitos não podem ser marcados por opressão, violência etc
Durante o debate é bastante discutido que o filme “5x Favela – Agora por Nós Mesmos” nos apresenta os espaços que poucas vezes são retratados, seja no cinema ou na televisão. E as favelas são espaços de resistência (principalmente as favelas centrais) e ao mesmo tempo é uma expressão urbanística da dívida com a população mais pobre. E não menos importante, foi muito discutido que o filme mostra a capacidade dos moradores de favelas em produzir arte, de produzir cinema e se auto retratar da forma mais fidedigna possível.
O produtor do filme e cineasta, Cacá Diegues, mencionou que ficou dois meses morando na favela para entender melhor como funcionava a favela e como era a vida da população. Só depois desse período de análise do espaço que ele começou o processo de filmagem. Durante o debate o Cacá Diegues também contou de como foi a produção do filme, a escolha dos atores e tudo mais que envolve o processo criativo do filme.
Os participantes da mesa redonda comentam que a favela é um espaço multifacetado, assim como o Brasil, a favela também é um mosaico. É comentado que a organização social do subúrbio tem particularidades que bairros da zona sul não possuem, e construir discurso contando uma história através do cinema é de extrema relevância, sendo uma forma de construir um espaço de transformação. O cinema pode ser utilizado como um recurso metodológico para ampliar a reflexão sobre o espaço urbano, sendo uma forma de “virar o jogo” dos estigmas sobre as favelas.
Na live, é comentado pelos participantes que devemos buscar o entendimento da ordem oculta da aparente desordem que a favela pode apresentar. Luciano Vidigal aborda sobre o “favelismo”, que, assim como o patriotismo, equivale a ter orgulho da favela, lugar onde nasceu, cresceu e viveu. Luciano também comentou que, ao ressaltar isso, está elevando sua autoestima.
Em certo momento, os envolvidos na mesa redonda argumentam que os serviços a serem implantados nas favelas devem ser planejados pelos próprios habitantes das favelas, sendo competência da prefeitura apenas prover os recursos financeiros. Os responsáveis pelos projetos aplicados nas favelas serão os próprios beneficiários. Segundo os participantes, é necessário trazer para o centro aquele que receberá o benefício. Escutar e aprender aquela cultura para assim poder potencializá-lo.
¹Graduando no curso de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social.