Semana 8M: perspectivas para integração

Boletim nº 68, 29 de março de 2023

A “Semana 8M: perspectivas para integração”, realizada nos dias 07, 08 e 09 de março de 2023, organizada pelo Núcleo de Pesquisa em Gênero, Espaço e Políticas Públicas (NUGEPP), com apoio do Observatório das Metrópoles, promoveu debates sobre a integração de Gênero no Planejamento Urbano e Regional como umas das questões urgentes contra todas as formas de violência e opressão.

A mesa de abertura, realizada no dia 7 de março, contou com a participação das convidadas Daniela Abritta (pós doutora em arquitetura e urbanismo pela UFMG Doutora em geografia, graduada em arquitetura pela UFMG); Rossana Brandão Tavares (arquiteta e urbanista pela escola de arquitetura da UFF, especialização e mestrado pelo IPPUR e doutorado em urbanismo pelo Pro-Urb da UFRJ.) e Kaya Lazarini (doutoranda na FAUSP, pesquisadora do lab-cidade da FAUSP e graduada em arquitetura e urbanismo pela Unicamp, com especialização em economia solidária e tecnologia social na américa latina).

A mesa tratou sobre o papel que o planejamento urbano e regional e a gestão pública têm em transformar ou manter as desigualdades ou injustiças encontradas na nossa sociedade. Também discutiu como esse campo pode contribuir com o desenvolvimento de ferramentas políticas que ajudem na construção de uma sociedade baseada na igualdade e equidade de gênero e raça.

Rossana Brandão falou sobre como a construção do conhecimento aborda questões como gênero, raça e classe. Segundo a professora, as perspectivas feministas, assim como as visões de outras minorias, são tratadas como uma especificidade no planejamento urbano, e não como um elemento constitutivo dele. Essa visão se baseia em uma ideia moderna universalista, que segue um ponto de vista masculino, branco e cis e que deixa de lado as necessidades de outros grupos que habitam no espaço urbano. Por essa razão, o conhecimento que está sendo produzido deve levar em conta a experiência corpórea daqueles/as que estão na cidade, articulando o real e o teórico.

Em seguida, a professora Daniela Abritta falou sobre a invisibilização da experiência das mulheres na cidade, mascarada pela justificativa de uma suposta neutralidade. Contudo, como Abritta pontuou, a cidade não é um espaço neutro, mas sim constituído por relações de poder, que definem seus contornos. Daí a necessidade, no campo do conhecimento, de um olhar mais amplo, com novos métodos e linguagens capazes de implementar novas formas de ação frente às e aos sujeitos que são interpelados pela pesquisa. É preciso ouvir as necessidades da população, entender quais são os maiores problemas enfrentados, para assim construir uma cidade mais justa.

Por fim, Kaya Lazarini trouxe uma visão mais prática sobre a importância da participação das mulheres em movimentos para o desenvolvimento das cidades. Segundo Lazarini, os espaços urbanos atuais foram construídos para suprir as necessidades das atividades produtivas, colocando em segundo plano as tarefas relacionadas a cuidados (normalmente realizadas por mulheres negras). Esse tipo de planejamento aprisiona as mulheres, separando e hierarquizando áreas comerciais e industriais. Essa situação demonstra como a cidade marginaliza certos grupos e como é necessária a participação ativa de mulheres negras para construção de um espaço inclusivo e que atenda a toda população. 

No dia 9 de março ocorreu uma roda de conversa sobre a temática de gênero com a arquiteta e urbanista Jessica de Castro Santana (Movimento de Mulheres Olga Benario). Na roda estavam representantes do Coletivo Mola, da Casa Almerinda Gama, além de docentes e discentes do IPPUR. Entre as principais pautas levantadas no evento estavam os questionamentos, a partir de uma perspectiva urbanística de gênero, sobre como  é criada a ‘’cidade segura’’ e se ela é feita para todos e para quem.

A mesa de abertura está disponível no Canal da Agência IPPUR: https://www.youtube.com/watch?v=YOVQVwxWvOA